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ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS: Origem, História, Simbolismo e Atuação na Umbanda Contemporânea
Descubra a origem, força e função das ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS na Umbanda. História, simbolismo, atuação cruzada e guia prático de conexão espiritual.
11/21/20255 min read


Por Que as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS são tão pouco Compreendidas na Umbanda?
As ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS sempre despertaram fascínio — e, ao mesmo tempo, confusão — dentro da Umbanda. Afinal, como pode um Preto Velho, um Caboclo ou um Boiadeiro se identificarem como “quimbandeiros”, se a Quimbanda é conhecida pela atuação da esquerda?
Essa pergunta aparece em rodas de estudos, gira após gira, e é totalmente legítima. Mas, ao contrário do que muitos imaginam, não se trata de erro, “mistura indevida” ou sincretismo mal compreendido. Trata-se de tradição ancestral, sobrevivente de uma linhagem que antecede as divisões modernas entre Umbanda e Quimbanda.
Como explicam estudiosos como Roger Bastide, Pierre Verger, Reginaldo Prandi e Nei Lopes, as religiões afro-brasileiras foram moldadas por profundas fusões, encontros culturais e adaptações espirituais ao longo dos séculos. E é justamente nessa teia histórica que nascem as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS.
Prepare-se: neste artigo, você vai mergulhar num panorama completo — histórico, simbólico, ritualístico e prático — sobre essas entidades que cruzam bandas com sabedoria e propósito.
A Origem Ancestral do Termo “Quimbandeiro” e a Tradição Bantu
Para entender as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS, precisamos voltar no tempo — até a raiz bantu das religiões afro-brasileiras. Estudos de Nei Lopes e Antônio Risério mostram que cerca de 90% dos africanos escravizados no Brasil eram de etnias bantu, trazendo consigo saberes, línguas e sistemas mágico-religiosos amplamente difundidos na África Central.
Entre esses saberes, destaca-se a figura do kimbanda — um curador, conselheiro, feiticeiro sagrado e mestre da comunidade.
➡️ O kimbanda não era “da esquerda”.
➡️ Não era Exu.
➡️ E nem trabalhava apenas com feitiçaria.
Ele era um técnico espiritual, guardião de ervas, rituais e curas da aldeia, como mostram os estudos de Joseph Miller e John Thornton sobre a África Centro-Bantu.
Quando, nos terreiros brasileiros, uma entidade de direita se apresenta como quimbandeira, ela está evocando essa raiz ancestral:
Sabedoria da cura
Conhecimento profundo das energias naturais
Capacidade de transitar entre forças
Autoridade espiritual tradicional
Por isso, não é raro ouvir:
Preto Velho Quimbandeiro
Caboclo Quimbandeiro
Boiadeiro Quimbandeiro
Marinheiro Quimbandeiro
Todos carregam em comum a herança bantu — mesmo quando vestidos com roupagens culturalmente brasileiras.
Exemplos simbólicos comuns:
Preto Velho Quimbandeiro: carrega a força da ancestralidade africana, mas trabalha na caridade da direita.
Caboclo de Pena Quimbandeiro: mistura linhagem indígena com vibrações bantu, criando um arquétipo híbrido profundamente brasileiro.
Boiadeiro Quimbandeiro: representa o homem do trabalho, cruzando força, disciplina e firmeza energética.
Essas expressões não são modismos, nem invenções contemporâneas: são vestígios vivos da Umbanda antiga — a Umbanda que nasceu antes mesmo de receber esse nome.
A Evolução Histórica das Classificações Espirituais no Brasil
No princípio, não havia linhas separadas. Não existia a divisão “caboclo”, “preto velho”, “baiano”, “marinheiro”, “boiadeiro”. Como mostram os registros históricos do século XIX estudados por Ruth Landes e Bastide, todas essas manifestações eram chamadas simplesmente de:
➡️ Caboclo
➡️ Ou “espírito do povo da terra”
Caboclo era um termo genérico para todo espírito brasileiro — indígena, negro, mestiço ou popular.
Foi só a partir do final do século XIX e começo do XX que começaram a surgir as classificações específicas:
Linha de Pretos Velhos
Linha de Caboclos de Pena
Linha de Boiadeiros
Linha de Marinheiros
Linha dos Baianos
Linha dos Malandros
Essas divisões surgiram principalmente como forma de organização litúrgica, influenciadas pelos terreiros mais estruturados do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Mas antes disso?
Tudo acontecia junto.
No mesmo espaço.
No mesmo tempo.
No mesmo corpo mediúnico.
E é por isso que as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS são tão importantes: elas são testemunhas vivas dessa fase ancestral da religião, quando Umbanda e Quimbanda coexistiam sem muros.
O Que Torna Uma Entidade “Cruzante"?
As ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS são conhecidas como entidades cruzantes, ou seja, espíritos que:
➡️ Trabalham predominantemente na direita (caridade, cura, orientação),
mas
➡️ Têm autorização ancestral para atuar na esquerda, quando necessário.
Essa capacidade não é comum — e tampouco é banal.
Ela é fruto de linhagem espiritual.
Na prática, isso significa que:
Um Preto Velho pode firmar um trabalho forte ao lado de Exus.
Um Caboclo pode “descer pesado” em aberturas de Quimbanda.
Um Marinheiro pode atuar em demandas mais densas.
Um Boiadeiro pode abrir caminho com firmeza de esquerda.
E tudo isso sem perder sua natureza de direita.
Como explica Reginaldo Prandi, Umbanda e Quimbanda são “campos simbólicos diferentes, mas que compartilham entidades, mitos e estruturas invisíveis”.
Diferenças Entre Atuação Ritualística e Atuação Pessoal/Profana
É importante diferenciar:
1. A atuação ritualística (dentro do terreiro):
Aqui, a entidade segue:
Hierarquia
Rituais
Orixás chefes
Firmezas
Regras de conduta mediúnica
Preparações energéticas específicas
2. A atuação pessoal/profana (fora do terreiro):
Neste campo, as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS:
Orientam o médium no dia a dia
Protegem trajetos
Ajudam em intuições
Mostram caminhos
Mas não “incorporam” de verdade fora do ritual
Essa distinção precisa ser compreendida para evitar confusões como:
“Meu caboclo baixou sozinho no ônibus”
“Minha preta velha falou comigo quando fui dormir”
As entidades atuam, sim, fora do terreiro — mas não incorporam nestes momentos. Elas acompanham, intuem, protegem.
E isso se torna ainda mais evidente quando se trata das entidades cruzantes.
As ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS e Sua Relação com os Orixás
As ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS não estão desvinculadas do panteão umbandista. Pelo contrário: elas se alinham a linhas vibratórias específicas:
Pretos Velhos Quimbandeiros → Linha de Oxalá, Obaluaiê, Nanã
Caboclos Quimbandeiros → Linha de Oxóssi, Ogum, Xangô
Boiadeiros Quimbandeiros → Linha de Ogum, Oxóssi
Marinheiros Quimbandeiros → Linha de Iemanjá, Oxalá
O fato de cruzarem com a esquerda não rompe esse vínculo.
A ligação com os Orixás é o que harmoniza, equilibra e legitima essa atuação.
Guia Prático: Como Se Conectar com as ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS
1. Estude sua linhagem espiritual
Peça ao seu dirigente para explicar sua coroa mediúnica.
2. Evite forçar o contato
Essas entidades descem quando é o momento certo — não quando o médium quer.
3. Participe de giras específicas
A energia da esquerda potencializa o entendimento sobre entidades cruzantes.
4. Medite com símbolos bantu
O uso de cantigas, pontos riscados e pontos cantados antigos ajuda.
5. Honre suas raízes africanas e indígenas
A ancestralidade é o portal de compreensão dessas forças.
Curiosidades: ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS em Outras Tradições
Kimbanda angolana
Na África, kimbanda é cura e sabedoria — não é demonizada.
Candomblé de Angola
Alguns candomblés ainda preservam o termo como função sacerdotal.
Cultos de linha-cruzada
No Sul e Sudeste, casas tradicionais chamam essas entidades de “mestres cruzantes”.
Diferenças Entre ENTIDADES QUIMBANDEIRAS na Umbanda, na Quimbanda e no Candomblé
Tradição Atuação
Umbanda Entidades de caridade que cruzam quando necessário
Quimbanda Atuação voltada à esquerda, guardiões, Exus e Pombogiras
Candomblé Não existe “quimbandeiro” como entidade; o termo é sacerdotal
Conclusão: A Beleza da Dualidade Espiritual
As ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS são pontes vivas entre Umbanda e Quimbanda.
São espíritos antigos, mestres ancestrais que mantêm viva a memória bantu dentro da religião brasileira.
Elas nos lembram que:
Umbanda e Quimbanda nasceram juntas.
As linhas só foram separadas depois.
A ancestralidade continua guiando tudo.
Quando compreendidas, essas entidades ampliam o trabalho mediúnico, fortalecem o terreiro e elevam a consciência espiritual.
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❓ Perguntas Frequentes
O que são ENTIDADES DE DIREITA QUIMBANDEIRAS?
São entidades de Umbanda que atuam na direita, mas possuem autorização ancestral para cruzar trabalhos na esquerda quando necessário.
Pretos Velhos podem ser quimbandeiros?
Sim. Muitos Pretos Velhos têm origem bantu e carregam saberes tradicionais ligados à kimbanda ancestral.
Qual a diferença entre quimbandeiro na Umbanda e na Quimbanda?
Na Umbanda são entidades de caridade com força cruzada; na Quimbanda trabalham apenas na esquerda, junto aos Exus e Pombogiras.
Essas entidades existem no Candomblé?
No Candomblé, o termo “quimbanda” é sacerdotal, não uma classificação de entidades.
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